Artesanato dá oportunidade as domésticas

Tudo começou quando o marido negou-lhe um real. Francisca Fernandes, moradora de Mossoró (RN), então com 49 anos de idade, decidiu que era tempo de se libertar. A lida como agricultora e empregada doméstica não atendia mais aos seus anseios pessoais. Então, como que por encanto ou predestinação, ela sentou-se na frente da TV e viu uma reportagem que mostrava o artesanato como alternativa de renda. A mulher não teve dúvidas: era esse o caminho a trilhar.

No início, a empreitada foi complicada. A potiguar tentou reproduzir a técnica mostrada na TV. Não conseguiu e decidiu superar o obstáculo com criatividade. Inventou uma fórmula própria para as peças que pretendia fazer. Misturou goma de tapioca, sabonete, óleo vegetal, vinagre e cola plástica. Pronto! Estava formada a massa maleável para a produção de peças de artesanato.

Mas aí surgiu outra dificuldade. Sem experiência alguma no ramo, o trabalho não chegava ao resultado estético desejado por ela. Foi então que apareceu a ajuda certa. “O Sebrae me procurou e orientou a fazer um curso de designer”, conta com forte sotaque nordestino. Dona Francisca aceitou a sugestão e foi assim que surgiram os bonecos bem-acabados que retratam o cangaço, cultura típica da região onde mora com a família.

Mas quem imagina que as peças são produto da manifestação cultural apurada, se engana. Dona Francisca conta que um baiano pediu a ela um boneco-réplica do famoso cantor Bob Marley – ícone do reggae jamaicano. Ela fez, mas o resultado não ficou bom. Quando o cliente foi embora, deixou sobre a mesa um calendário com imagens de Maria Bonita e Lampião, o famoso casal que comandou  o cangaço na década de 30, na região da caatinga. “Eu comecei a desenvolver as peças e não parei mais”, explica.

Quatro anos depois do dia em que dona Francisca teve um real negado pelo esposo, ela fatura aproximadamente R$ 3 mil por mês. E vende as peças para compradores de Natal (RN), Mossoró e Recife (PE). A aratesã atribui o sucesso do negócio que criou à parceria com o Sebrae. Dona Francisca revela que é assídua frequentadora dos cursos e palestras da instituição, sobre empreendedorismo, gestão, formação de preço e recursos humanos. Sobre o marido pão-duro, ela diz: “Só tenho a agradecer, pois foi ele quem me acendeu a luz que faltava”, diz cheia de carinho.

A experiência de sucesso da artesã é uma dos 135 histórias de sucesso à mostra na tenda do Sebrae, na 10ª Expo Brasil Desenvolvimento Local, que ocorre de quarta-feira (25) a sexta-feira (27), em Brasília. Os expositores são atendidos pela instituição, em aprceria com o governo federal, nos Territórios da Cidadania, regiões com baixo índice de desenvolvimento humano e econômico.

O programa promove o desenvolvimento econômico e a universalização de programas básicos de cidadania. Desde o início da iniciativa, o Sebrae leva às comunidades atendidas soluções individuais, por meio, por exemplo, do programa Negócio a Negócio. Ações coletivas como cursos, seminários e palestras também integram a iniciativa da instituição, que ampliará a atuação para 104 Territórios da Cidadania e prevê atender 400 mil negócios no próximo triênio. Para isso, vai investir R$ 130 milhões.

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