Trabalho análogo à escravidão: Retrocessos para a categoria e toda a classe trabalhadora- Por Creuza Oliveira

por Creuza Oliveira, secretária-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD) e presidenta do Sindoméstico/Ba

Em 2018, ações fiscais da Inspeção do Trabalho, do Governo federal, identificaram 1,7 mil casos de trabalho escravo no Brasil. A maior parte desses trabalhadores (1,2 mil) estava em áreas rurais, onde a prática historicamente é mais comum. Foram resgatadas 1.133 pessoas. Em todo o ano passado foram realizadas 231 inspeções. Em um quarto delas houve registro de trabalho análogo ao de escravo.

O retrocesso da Reforma Trabalhista e da Previdência, o desmonte no avanço dos direitos da classe trabalhadora e o desemprego (hoje são mais de 15 milhões de desempregados no Brasil) abrem precedente para que exista o trabalho escravo. O governo atual garantiu que a Reforma Trabalhista ia trazer empregos. Ledo engano. O que estamos vendo é a exploração da mão de obra dos homens, e principalmente das mulheres.

Nossa categoria também tem sofrido porque se os demais trabalhadores de classe média perdem seus empregos não têm como manter uma trabalhadora doméstica. Tem sido duro contabilizar um grande número de domésticas desempregadas. Sem nenhuma estabilidade, segurança e nenhum direito garantido. Voltamos à era do chicote e da desvalorização da classe trabalhadora.

Diante deste quadro, muitas acabam se submetendo ao trabalho análogo à escravidão. Que para nós é também trabalhar sem carteira assinada, Previdência, férias, direito a hora do almoço, folgas aos domingos e feriados etc. Apesar de termos tudo isso garantido em lei.

Enfim, estamos vivendo a era do retrocesso dos direitos da classe trabalhadora.

Sabemos que quem mais sofre com tudo isso é a população negra. Principalmente com o desemprego e com o trabalho análogo à escravidão.

Nós temos que continuar lutando, indo para as ruas, tentando denunciar esse governo fascista, homofóbico, violento, machista, que está aí entregando as nossas riquezas para o capital estrangeiro e desrespeitando os direitos da classe trabalhadora.

O argumento de que tem que fazer a Reforma da Previdência porque senão o Brasil vai quebrar é uma mentira. Pois o mandante do Governo Federal pagou uma fortuna para os deputados corruptos votarem para aprovarem a Reforma. Esses milhões que foram gastos deveriam ser investidos na população. Em educação, saúde e geração de emprego. O presidente Jair Bolsonaro quer manter os seus privilégios e os da classe empresarial, dando prejuízo ao povo.

Estamos vivendo um momento de ditadura. Com o judiciário vendido. Não temos a quem recorrer.

O trabalho escravo desumaniza e violenta o ser humano. Estamos vendo tantas pessoas doentes vivendo essa situação de trabalho análogo à escravidão.

As denúncias de trabalho escravo podem ser feitas por meio do Disque Direitos Humanos (Disque 100).

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