Na manhã desta terça-feira, dia 1º de outubro, teve início o ‘Seminário sobre a discriminação ao trabalho das trabalhadoras domésticas’, organizado pelo Sindoméstica e pela Fenatrad (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas).
Convenção da Lei 189, importância do sindicato, racismo, história de vida, feminicídio, direitos e deveres foram os assuntos escolhidos para dois dias de debates sobre o cotidiano do trabalho doméstico em Sergipe e no Brasil.
A professora doutora em Serviço Social da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, Fernanda Marques de Queiroz veio até Aracaju para participar do Seminário e entrevistar trabalhadoras domésticas de Sergipe. As entrevistas vão compor a pesquisa focada nas capitais do Nordeste sobre o tema ‘Mudanças e permanências do trabalho doméstico remunerado no Brasil: uma análise das violências sexistas presentes no cotidiano das trabalhadoras’.
No primeiro dia de Seminário, uma das palestrantes Márcia Vieira, do Fórum de Mulheres Negras de Sergipe, contou um pouco de sua experiência pessoal. “Sou filha de uma empregada doméstica. Minha mãe surtou com tantos maus-tratos que sofreu em sua vida como trabalhadora doméstica. Ela hoje mal escreve o nome dela, mas me deu a oportunidade de ser a negra ousada que eu sou. E onde eu vou, eu falo da importância das mulheres negras e mulheres trabalhadoras, a ‘mama África’. Quando estamos juntos e juntas, nós podemos reverter qualquer situação difícil, por isso não podemos desistir de lutar todos os dias”, afirmou.
A professora Fernanda Marques de Queiroz citou o senso de 2015 que apontou a existência de aproximadamente 6 milhões de trabalhadoras domésticas no Brasil, sendo 70% destas mulheres negras e pardas com direitos aviltados. “Há uma luta histórica para que as trabalhadoras domésticas tenham os mesmos direitos que os demais trabalhadores. Há um passado escravocrata que pesa forte sobre esta realidade. Em 2011, houve a Convenção 189, aprovada em Genebra na Suíça, para assegurar que países como o Brasil garantissem jornada de trabalho de 44 horas semanais, 8h diárias, hora-extra, a restrição do trabalho doméstico para maiores de idade, direito ao descanso remunerado. Ou seja, muita coisa mudou para melhor. Mas enfrentamos hoje uma avalanche de perda de direitos no Brasil, então o momento não é fácil”, explicou resumidamente.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SE), professor Rubens Marques, falou sobre a importância dos atos de massa contra perda de direitos. “Quando não há reação, os ataques aos direitos vão avançando. Conseguimos derrubar no Congresso Nacional a PEC que obrigava o trabalho aos domingos, feriados e foi com muita pressão. Às vezes conseguimos uma vitória parcial, mas precisamos que todos os brasileiros e brasileiras que estão sofrendo com a perda de direitos ocupem as ruas, participem dos protestos. A luta contra a perda de direitos não pode ser terceirizada para os sindicatos e movimentos sociais apenas. Todos têm que participar, cada um faz a sua parte”.
A atual presidente do SINDOMESTICA/SE, Maria Aparecida Marques, afirmou que atualmente existem 14 mil trabalhadoras cadastradas na Casa da Doméstica em Sergipe e 1060 são sindicalizadas. Além dos debates, o sindicato prestou homenagem através da confecção de um banner para a ex-presidente do SINDOMESTICA/SE, Sueli Maria dos Santos in memorian. A programação do ‘Seminário sobre a discriminação ao trabalho das trabalhadoras domésticas’ continua nesta quarta-feira, dia 2/10.
Fonte: CUT/SE