Publicada no dia 19 de fevereiro de 2020
A presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD), Luiza Batista, concedeu uma entrevista ao site ‘Catarinas’ sobre a luta da categoria frente à cultura escravocrata.
Mesmo diante de várias funções que acumulam, as trabalhadoras domésticas formam uma das categorias mais desvalorizadas do país. Para entender a falta de reconhecimento à profissão é preciso olhar para a legislação: somente em 2015 com a regulamentação da Emenda Constitucional 72/2013 pela Lei Complementar 150/15 é que os direitos dessas trabalhadoras foram legalmente igualados aos das demais categorias.
A conquista da carteira de trabalho já tem 46 anos, mas ainda não se efetivou na prática, já que cerca de 70% das trabalhadoras domésticas do Brasil — um contingente de quase sete milhões no total — ainda atua na informalidade, ganhando em média 68% a menos em relação àquelas que têm contratos formais, segundo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), divulgada em 2019.
Luiza Batista entre outros assuntos, destacou a “infeliz” declaração do Ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre as domésticas irem à Disney.
“A Disney pode ser um destino comum à classe média brasileira, mas está longe de ser o ponto de encontro dessa categoria, cujo salário médio entre as não formalizadas é de R$755, tampouco da maior parte das trabalhadoras/es do país. Por isso, a fala do Ministro da Economia, Paulo Guedes, dissonante à realidade dessas mulheres, é considerada um deboche, sintomático da herança da escravidão”, como avaliou Luiza Batista.
O perfil das trabalhadoras domésticas, majoritariamente mulheres (93% do total), negras ou pardas (66,6%), com idade média de 44 anos, analfabetas ou semianalfabetas, traz a marca de um sistema econômico escravocrata, baseado na ideologia de inferioridade da população negra.
“É uma herança ainda da época da escravidão quando uma lei áurea que supostamente nos daria liberdade, nos deu liberdade com discriminação porque nenhum escravo foi indenizado pelo tempo que trabalhou, recebeu recurso financeiro para se estabelecer. Aí se formaram as favelas, os bolsões de pobreza, simplesmente abriram a senzala e disseram ‘desaparece daqui’”, explica a dirigente sindical.
Além da discriminação racial, a condição dessas trabalhadoras é atravessada pela opressão de gênero identificada até mesmo na desigualdade salarial entre homens e mulheres dentro da própria categoria, como nos explicou a entrevistada.
Confira a entrevista completa: https://catarinas.info/a-luta-das-trabalhadoras-domesticas-frente-a-cultura-escravocrata/