FENATRAD entrevista- “Estou há um ano tentando sobreviver”, diz Mirtes Renata após um ano da morte de Miguel

Publicado no dia 4 de junho de 2021

Nesta quarta-feira (2), completou um ano da morte de Miguel Otávio de Santana, de 5 anos. Ele caiu do nono andar de um condomínio de luxo no bairro de São José, no Centro do Recife. A mãe dele, a então empregada doméstica Mirtes Renata Santana de Souza, saiu para passear com a cadela dos empregadores e o menino ficou sob os cuidados da patroa Sari Corte Real,  ex-primeira-dama de Tamandaré.

A Assessoria de Comunicação Social da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD) conversou com exclusividade com a mãe de Miguel, Mirtes Renata.

Foto: Extra

Confira a entrevista:

FENATRAD: Há um ano da morte de seu filho Miguel, como tem sido a sua vida?

Mirtes Renata: Estou há um ano tentando sobreviver. Um ano sem a presença do meu filho. Minha casa está um silêncio muito grande. Queria muito ter o meu neguinho comigo, pois depois que ele partiu minha vida virou totalmente de cabeça para baixo, tanto pela falta dele, quanto pela questão profissional, de estudo. Tudo mudou. E o que mais dói em tudo isso é a falta dele. É muito doloroso.

FENATRAD: Por que decidiu cursar Direito?

MR: Primeiro para entender o processo de Miguel, e segundo para poder ajudar a outras mães a não vivenciarem a situação que eu estou passando hoje, com esse Judiciário classista e racista. Infelizmente eu venho sentindo na pele essa questão do racismo. E é algo muito difícil pra mim. É muito cansativo, mas estou de pé, firme e graças a Deus eu não estou só nesta luta. Estão comigo os movimentos sociais e organizações que estão segurando minha mão e não vão soltar. Seguimos lado a lado até conseguirmos o que queremos; a condenação e a prisão de Sarí Corte Real.

FENATRAD: Como anda o processo?

MR: O processo anda praticamente parado por conta de algumas irregularidades. Os advogados de Sarí deram o endereço de uma testemunha errado. O oficial de Justiça foi lá três vezes e não encontra a mulher. Ninguém na rua a conhece. Fui analisar o endereço na questão penal e na ação cível pública, e a única diferença é o número da casa, mas independente disso, se ela morasse na rua, alguém ia conhecê-la. Então estamos buscando uma providência do juiz com relação a isso. Já a testemunha Rosineide foi ouvida de forma sigilosa, sem a presença dos meus advogados. Hoje estou cobrando a anulação do depoimento dela. A expectativa é que a Vara da Criança e do Adolescente faça de novo o ato de intimar e ouvir a testemunha, na presença dos meus advogados, que estão devidamente habilitados a participar de todos os atos do processo. Por quê estão fazendo essa bagunça no processo de meu filho? São situações inadmissíveis que o Judiciário está aceitando.

FENATRAD: Você acredita que a justiça vai ser feita?

MR: Eu acredito sim, estou lutando pra isso. Estou cobrando para que a justiça seja feita e ela vai ser. Tem muita gente comigo cobrando. A justiça divina não falha. Deus vai fazer a parte dele, e eu vou fazer a minha aqui na Terra, cobrando pela justiça dos homens.

FENATRAD: Você tem feito o seu luto virar luta?

MR: Eu não vivi meu luto. Precisei transformar meu luto em luta. Não pude viver o luto pela morte do meu filho porque precisei estar de pé, cobrando o Judiciário para que o caso dele não caía no esquecimento.

Compartilhe esta notícia: