Nota sobre o vídeo da influencer Adriana Sant’Anna

Creuza Oliveira, secretária-geral da FENATRAD, em foto para a campanha “Essenciais são Nossos Direitos

Nesta quinta-feira, o vídeo da influencer Adriana Sant’Anna reclamando sobre a dificuldade de encontrar trabalhadoras domésticas nos Estados Unidos viralizou nas redes sociais. Queremos chamar a atenção sobre como o vídeo é didático para explicar a mensagem que é o mote da campanha Essenciais São nossos Direitos: a de que o trabalho doméstico é a base de todas as atividades da vida.

No vídeo, Adriana fala que tem aparecido pouco no Instagram, pois todo seu tempo tem sido destinado a tarefas como “lavar, passar, arrumar, organizar, tirar bagunça”, e que precisa de uma profissional que fique o tempo todo com ela e a “ajude” nessas tarefas. Reforçamos que o trabalho doméstico não é ajuda, ele é um serviço prestado por profissionais qualificadas. As trabalhadoras domésticas remuneradas são profissionais que contribuem na organização de nossas vidas para que possamos realizar outras atividades. A referência ao trabalho delas como uma “ajuda” reforça a ideia de que é uma atividade informal e que não merece remuneração adequada. No mesmo sentido é a afirmação, recorrente, de que as trabalhadoras “são quase da família”. Trabalhadoras domésticas não são “quase da família”. Elas têm a família delas.

Adriana afirma que no Brasil, “a gente estava feita” porque existia “uma pessoa para fazer tudo”, enquanto nos EUA, não. O Brasil é o segundo país com maior número de trabalhadoras domésticas no mundo. São 4,7 milhões de mulheres, a maioria negras e moradoras da periferia. Profissionais que sofrem as mais diversas formas de discriminação, como assédio e baixa remuneração, reflexo de uma cultura escravocrata, além do alto índice de informalidade da categoria. Será que esse “estar feita” não está construído sobre a desvalorização de um serviço que é fundamental, mas ainda tão desvalorizado na sociedade? Afinal, o trabalho doméstico só é invisível para quem não precisa fazê-lo.

Por isso, convidamos Adriana e todas as pessoas que se surpreenderam com o vídeo a acompanhar a campanha da Themis e da Fenatrad e a baixar o Guia da Contratação Responsável – Boas práticas para a valorização da trabalhadora doméstica. 

Encerramos com a frase da filósofa italiana Silvia Federici, precursora na campanha de salários para o trabalho doméstico: “a imensa quantidade de trabalho doméstico remunerado e não remunerado, feito por mulheres dentro de casa, é o que mantém o mundo em movimento”.

Obs: Esta nota redigida pela Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos tem total apoio da FENATRAD.

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