Publicada no dia 14 de dezembro de 2021
Se há tanta dificuldade em provar casos de assédio sexual em salas e escritórios, o que dizer da situação das trabalhadoras do lar? Domésticas, babás e diaristas correm perigo em dobro (ou triplo) de não terem a justiça sendo feita caso sejam assediadas: os lares são ambientes privados, onde elas trabalham, em sua maioria, sozinhas, onde as pessoas não podem entrar, nem mesmo a polícia, a não ser que o proprietário autorize. E esse proprietário é muitas vezes o agressor ou a família dele.
“É um ambiente de trabalho invisibilizado, onde a vítima pode fazer muito pouco para obter provas. Isso dificulta a punição, o que, por sua vez, mostra um grande nível de impunidade que estimula esses agressores. São espaços pequenos, como cozinhas e banheiros onde essas mulheres são encurraladas, e além da dificuldade de obter provas, já que elas não podem filmar pois podem ser processadas por uso não autorizado de imagem, muitas acabam aguentando a situação para manter o emprego”, explica Luiza Batista, coordenadora geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).
A orientação então, afirma Batista, é que elas tentem gravar áudios quando estiverem nessas situações, por exemplo. Ela ainda salienta que a Fenatrad sempre está em contato com os sindicatos – que são a real base dessas denúncias -, e a Federação sempre procura conversar com essas mulheres e realiza oficinas, inclusive online na pandemia, onde explicam e orientam essas mulheres sobre o que podem fazer, como fazer e a quais órgãos devem recorrer para denunciar caso precisem.
“Porém, a situação é muito, muito difícil. Houve um caso, por exemplo, de uma empregada que era assediada por um idoso de cerca de 80 anos, que imprensava ela por trás no banheiro ou na cozinha. Um dia ela conseguiu gravar um áudio que mostrava claramente o que estava acontecendo, mas a família alegou que ele era diabético e que, às vezes, tinha uns revertérios. E esse tipo de falso diagnóstico é, infelizmente, muito comum. A lei criada para proteger essas mulheres é essencial, mas é preciso também exigir mais cuidado com esses diagnósticos e que os médicos que os dão, sejam duramente questionados sobre isso”, pontua a coordenadora geral.
Reprodução de matéria publicada no Jornal A Tarde, edição do dia 12 de dezembro de 2021