Publicada no dia 3 de maio de 2022
A coordenadora geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD), Luiza Batista, foi uma das dirigentes sindicais entrevistadas, nesta segunda-feira (2), do Especial “Pelo que lutam as trabalhadoras”, uma iniciativa do projeto Elas Por Elas, da Secretaria Nacional de Mulheres do Partido dos Trabalhadores (PT).
Luiza foi uma das fundadoras do Espaço Mulher que tem o objetivo de discutir as violências que atingem as mulheres. Ela já fez parte da secretaria de saúde da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Pernambuco. Atualmente, além de ter sido reeleita na FENATRAD como coordenadora geral, faz parte da direção administrativa do sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pernambuco.
“Mesmo com os avanços durante os governos do PT, como a PEC das Domésticas e o aumento real de salário mínimo, as trabalhadoras domésticas ainda enfrentam muitos desafios em nossa sociedade classista, patriarcal, machista e racista”, disse a dirigente sindical.
Confira a entrevista:
1)Quais são as principais reivindicações das trabalhadoras domésticas atualmente?
Mais postos de trabalhos e formalização são as principais. A formalização, por meio do registro da carteira de trabalho, é estratégica pois desta forma isso garante todos os demais direitos. Com a soma de pandemia e crise econômica, toda a classe trabalhadora está sendo penalizada, não diferente, as trabalhadoras domésticas também, pois diversas companheiras perderam seus empregos.
Lutamos também pelo devido reconhecimento, os encargos sociais e o respeito ao direito conquistado com tanta luta. Nós merecemos tratamento digno e reconhecimento do trabalho doméstico, porque, infelizmente, as pessoas nos enxergam como pessoas inferiores. Isso se deve à discriminação, ao preconceito e à herança escravocrata que o Brasil tem ainda nos dias de hoje, uma vez que nossos empregadores, na maioria, são descendentes brancos, pessoas que foram senhores dos escravizados.
2) Quais as principais dificuldades de ser trabalhadora doméstica?
A exposição às violências. Em maioria, somos mulheres, negras e muitas das vezes sem escolaridade. Exemplo disto é que estamos trabalhando isoladas dentro de uma única residência, geralmente, sofrendo variadas violências, assédio moral, e sexual. Isso vai minando a autoestima das companheiras e causando diversos problemas.
Tem muitas companheiras que precisam de apoio psicológico para suportar as dificuldades do trabalho doméstico. Toda essa situação nos deixa vulnerável, pois assediam a gente de todas as formas, e não têm o mínimo respeito a nós.
Sabemos que há uma dificuldade em denunciar essas violações, na etapa do recebimento da denúncia, mas o sindicato não pode ir ao local de trabalho, por isso temos parceria junto ao Ministério Público do Trabalho e aos auditores fiscais para buscarmos formas de fiscalizar.
Pois a residência, pela Constituição é inviolável. Só pode adentrar com a permissão do proprietário, sabemos que os empregadores não deixarão o sindicato entrar. Diferente de uma empresa que o trabalhador faz a denúncia, e o sindicato tem acesso a chegar na empresa e verificar a veracidade das denúncias.
Desta forma, infelizmente, na nossa categoria não é possível, quando a gente recebe uma denúncia agir. Tem toda uma questão. Como os auditores fiscais conseguirão chegar até aquela residência para verificar. Na pandemia, por exemplo, muitas companheiras foram resgatadas no trabalho análogo à escravidão.
3) Quais são as perspectivas de organização e conquistas para 2022 e no próximo período?
Que continuemos mantendo esse trabalho de organização e conquistas, que já dura mais de 80 anos. A luta das trabalhadoras domésticas é anterior à CLT.
Hoje, o Brasil está sofrendo essa crise geral que aconteceu desde o golpe da presidente Dilma. A prova disso foram as reformas trabalhistas e que entraram em vigor. Então, foram muitos retrocessos que atingiram também as trabalhadoras domésticas.
A nossa perspectiva é que as pessoas elejam a pessoa certa para comandar esse país, eu me refiro ao presidente Lula, mas também tenham consciência de votarem em senadores e senadoras, deputados e deputadas que realmente possam estar contribuindo para que o presidente Lula possa volte a colocar este país no caminho da democracia, do desenvolvimento e crescimento econômico. Não podemos perder as esperanças!
Fonte: https://pt.org.br/maio-das-trabalhadoras-o-que-querem-as-trabalhadoras-domesticas/