Publicada no dia 25 de julho de 2022
A Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD) ressalta a importância do dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha comemorado nesta segunda-feira (25). Este ano, a data completa 30 anos de criada. Ela foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) a partir do primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas ocorrido em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o dia é considerado um marco da união de vozes de mulheres afrodescendentes de todo o continente. A principal intenção é denunciar o racismo e machismo enfrentados por mulheres negras, não só nas Américas, mas também em todo o mundo.
No Brasil, pela Lei 12.987/2014, ficou estabelecido, também no dia 25 de julho, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela, ficou conhecida como “Rainha Tereza”, que viveu no século XVIII, no Vale do Guaporé (MT), e liderou o Quilombo de Quariterê.
A partir disso, os movimentos de mulheres negras criaram o Julho das Pretas. Durante o mês de julho são realizados atos que celebram e visibilizam a trajetória de resistência das mulheres negras, propondo uma agenda colaborativa de atividades.
A FENATRAD e sindicatos filiados realizam diversas ações com o intuito de empoderar e fortalecer a categoria que é representada – na sua maioria – por mulheres negras. São promovidos encontros, palestras, lives, seminários com debates sobre reparação, igualdade de emprego e renda, resistência ao racismo, empoderamento feminino, entre outros.
Para Cleide Pinto, coordenadora de Atas da FENATRAD, a data representa uma importância para todas as mulheres negras e trabalhadoras domésticas. “Esta data representa a nossa luta no combate ao racismo, a desigualdade de classe, a violência doméstica e o feminicídio. Continuamos firmes na luta contra todas as violências e escravização das trabalhadoras domésticas e as mulheres negras”, disse.
“Hoje, além de ser um de luta como todos os dias, é também dia de dar visibilidade à luta das mulheres negras em defesa de direitos e contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo no trabalho doméstico”, afirmou, Chirlene dos Santos Brito, secretária de Formação Sindical.
Desigualdade
O último levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), intitulado “A Inserção da população negra e o mercado de trabalho”, referente ao 2° trimestre de 2021, mostra que, além de o desemprego entre as mulheres negras ser o dobro que o dos homens brancos, as que conseguem uma ocupação têm os piores salários e os trabalhos mais precarizados. Somente 1,9% delas ocupam algum cargo de direção.
Enquanto 35% dos homens brancos e 34% das mulheres brancas têm ocupações consideradas precárias, entre as mulheres negras o índice é de 46%. A subutilização da força de trabalho impacta 40,9% das mulheres negras enquanto que para os homens não negros, atinge 18,5%.
Um outro dado da mesma pesquisa revela a retração na participação delas no mercado de trabalho. O número total de mulheres negras que estavam trabalhando no 1° trimestre de 2021 era 8% menor no 2º trimestre de 2020, ou seja, houve uma redução, nesse período, do total de ocupadas. Entre os homens brancos a retração foi de -2%.
Elas também têm os menores rendimentos. Enquanto o salário médio dos homens brancos, no 2° trimestre de 2021, ficou em R$ 3.471, a média para as mulheres negras foi de R$ 1.617, ou seja, elas ganham apenas 46,5% do que ganham os homens brancos. (Fonte: CUT).
Tereza de Benguela
Após a morte de seu companheiro, José Piolho, Tereza de Benguela passou a liderar a comunidade quilombola por duas décadas, sendo um exemplo de matriarcado e governabilidade democrática.
A história, incerta, conta duas versões. Uma, a de que Tereza de Benguela cometeu suicídio após ser capturada por bandeirantes e outra, que foi morta por quem a perseguia e teve sua cabeça exposta no próprio quilombo.
A memória de Tereza, assim como de outras heroínas negras, se perdeu na vertente da historiografia brasileira que ignora a capacidade de mulheres negras na construção de processos de libertação e de organização popular latino-americanas.
Embora quase esquecida por mais de dois séculos, Tereza vem sendo resgatada e referenciada cada vez mais.
*Com informações do Brasil de Fato (Rainha negra no Pantanal: conheça a história de Tereza de Benguela, por Sofia Isbelo e Andresa Costa).