FENATRAD analisa pesquisa sobre os impactos da pandemia no trabalho doméstico

Publicado no dia 26 de agosto de 2022

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estudou os impactos da pandemia da covid-19 no emprego doméstico. O estudo foi publicado na Revista da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), e foi realizado entre maio e junho de 2020, momento crítico para os casos de incidência e óbito por covid-19.

A Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD) se posicionou sobre o assunto. A coordenadora de Atas da FENATRAD, Cleide Pinto, afirmou que acompanhar as companheiras perdendo seus trabalhos e adoecendo foi algo muito impactante. “Se não fosse a ajuda da FENATRAD e dos sindicatos que se mobilizaram para fazer uma campanha nacional de arrecadamento de alimentos, o impacto seria bem pior. As trabalhadoras perceberam que é um mito dizer que os sindicatos só servem para tirar o dinheiro dos associados. A federação e os sindicatos foram as entidades que de fato ajudadaram a categoria”, disse.

Cleide Pinto relata que as trabalhadoras domésticas desenvolveram diversos problemas de saúde, como hipertensão, hérnia de disco, além de doenças silenciosas como a síndrome do pânico.

“Esta é uma pesquisa muito importante porque dá visibilidade ao que aconteceu com as trabalhadoras. Estão aparecendo muitos casos agora de doenças silenciosas resultantes da opressão e do trabalho análogo à escravidão que muitas foram submetidas durante a pandemia. O reflexo está aí no adoecimento de muitas delas”, informou.

Para a secretária de Formação Sindical da FENATRAD, Chirlene Brito, o impacto da pandemia para as domésticas refletiu nas questões de saúde, econômicas e sociais, nos direitos, reconhecimento e valorização.

“Fomos uma categoria que não teve visibilidade e ainda estamos sofrendo com este impacto. Várias companheiras perderam seus postos de emprego. Foi fundamental o apoio da FENATRAD, sindicatos e organizações parceiras que se somaram para que nós pudéssemos exigir os nossos direitos e valorizar os nossos trabalhos. Estamos sendo escravizadas para não sermos encaixadas na lei e não termos os nossos direitos reconhecidos”, frisou.

Pesquisa

A pesquisa mostra que babás e cuidadoras de idosos em atividade continuaram,  em  sua  maioria,  trabalhando,  enquanto  as  diaristas foram as mais demitidas.

Esses são os primeiros dados de uma pesquisa mais ampla, que segue em desenvolvimento e cujo objetivo é compreender as contratações durante a pandemia em comparação ao período que antecedeu o distanciamento social, decretado pelas autoridades sanitárias. A pesquisa foi realizada em campo com contratantes de trabalhadores domésticos e coletou 1.857 respostas.

Elas identificaram ainda que o perfil no trabalho doméstico, em sua maioria, é composto por um grupo que vivenciou grande vulnerabilidade social, econômica e riscos à integridade física e mental durante a pandemia. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), apresentados no estudo, no ano de 2018, 6,2 milhões de brasileiros tinham como ocupação o trabalho doméstico. Desse total, 92,7% correspondiam a mulheres e 65% delas eram negras. Atrelado a isso, até o fim de 2019, 51% das trabalhadoras domésticas representavam o papel de principais provedoras do sustento familiar.

O estudo constatou também dois fatores importantes nesses grupos. Um deles é o risco à saúde, visto que, em 2019 e 2020, 46% das trabalhadoras domésticas no país tinham mais de 45 anos, faixa etária em que as comorbidades começam a ser mais presentes. O outro é a importância da renda dessas mulheres para suas famílias, em sua maioria (66,9%) compostas por marido e filhos.

A manutenção do profissional no serviço, mas com alteração do transporte, a necessidade de residir na casa do patrão ou de pedir demissão foram dinâmicas frequentes observadas durante o levantamento de dados. Durante a primeira onda da covid-19, momento da pesquisa, foi observado que quase metade (49%) das trabalhadoras domésticas contratadas pelos respondentes da pesquisa teve o direito de praticar o distanciamento, com os recursos necessários. No entanto, as pesquisadoras desconfiam que essas respostas podem ter incidência de questões morais, uma vez que, por terem sido coletadas dos próprios contratantes, a pergunta se refere a uma relação de trabalho, envolvendo a percepção do que é certo ou errado.

De acordo com a pesquisadora Luana Myrrh, houve situações em que a trabalhadora doméstica passou a residir com os patrões, o que limitou suas vivências com seus familiares e, em alguns casos, as expôs a relações de exploração do seu tempo de trabalho e até mesmo a violências. Além disso, “a necessidade do isolamento social, principalmente em 2020, e a permanência das mulheres no ambiente doméstico, onde geralmente também se encontra o possível agressor, aumentou a exposição à violência e dificultou o pedido de ajuda. A diminuição da renda também reduziu o empoderamento das mulheres em seus lares, o que pode ter contribuído para o aumento da violência doméstica para essas trabalhadoras”, completou.

Fonte: Agora RN

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